O sistema financeiro global está a mudar. Descubra como a Blockchain e as Criptomoedas estão a disruptar os pagamentos e o sistemas financeiros tradicionais.

Começemos pelos problema dos sistemas financeiros tradicionais

Hoje em dia, quase todos os aspectos da banca são geridos por sistemas centralizados, operados por órgãos directivos e por gatekeepers. Os consumidores comuns precisam de lidar com um conjunto de intermediários financeiros para ter acesso a tudo, desde uma simples transferência bancária a empréstimos para automóveis, hipotecas para casas, até à negociação de acções e obrigações, entre tantos outros.

Para além de lentos e caros para os seus clientes, os sistemas financeiros centralizados são também vulneráveis a piratas informáticos, violações de dados, e falhas de segurança.

Os sistemas financeiros tradicionais são também inacessíveis a milhões de pessoas que não satisfazem os critérios para a abertura de uma conta bancária. Isto pode parecer estranho para os países desenvolvidos, mas o acesso insuficiente ao capital, isolamento geográfico e opressão governamental restringem o acesso aos serviços financeiros tradicionais de milhões de pessoas em todo o mundo.

Como resultado, existem poucos caminhos para os consumidores acederem directamente ao capital e aos serviços financeiros. Não podem contornar intermediários como bancos, bolsas e mutuantes, que ganham uma percentagem de cada transacção financeira e/ou bancária como lucro.

Durante a crise do Coronavírus de 2020, a Reserva Federal dos EUA fez as manchetes ao afirmar que iria injectar até $1,5 triliões de dólares no mercado para evitar “perturbações invulgares” e socorrer os bancos que se encontram sob imensa pressão financeira. No entanto, este dinheiro não é gratuito, e alguém tem de pagar por ele eventualmente. Em última análise, as pessoas comuns têm de pagar o preço e este vem sob a forma de impostos mais elevados ou de taxas de desemprego mais elevadas.

Mais uma vez, isto sublinha o problema central com o sector financeiro actual. Existe um enorme desalinhamento entre os interesses da população e os interesses das instituições.

As cripromoedas e a blockchain, na vertente de Finanças Descentralizadas, não discriminam seja quem for e permitem a qualquer pessoa com uma ligação à Internet aceder aos serviços financeiros, de forma fácil, barata e equitativa.

Quais as vantagens da DeFi

As finanças descentralizadas oferecem aos utilizadores a flexibilidade para transaccionar e negociar quando e onde quer que seja, com apenas uma ligação à Internet.

A verdadeira disrupção só aparece com o total controlo individual sobre bens e respectivo acesso, e a tecnologia está agora a permitir esta realidade. Muitos construtores de produtos financeiros inovadores estão a avançar para protocolos de código aberto para a troca de activos através de plataformas descentralizadas. As novas plataformas têm duas enormes vantagens sobre as finanças, tal como existem hoje.

Em primeiro lugar, os indivíduos serão capazes de desbloquear muitas formas quer conhecidas quer inovadoras de valor, sem terem de confiar em nenhum intermediário para cuidar dos seus activos por uma comissão. Qualquer pessoa tem acesso e não há controlo central.

Em segundo lugar, todos os protocolos são de código aberto, pelo que qualquer pessoa pode construir novos produtos financeiros em cima deles e as pessoas de todo o mundo podem colaborar e encontrar novas formas de criação de valor. Isto pode levar a uma inovação cada vez mais rápida e a fortes efeitos de rede à medida que mais e mais utilizadores e construtores se deslocam para as plataformas descentralizadas.

Numa perspectiva mais técnica, as vantagens da DeFi podem assumir:

Descentralização: Cada nó da rede mantém uma cópia de todos os dados armazenados dentro da blockchain, negando a necessidade de uma autoridade centralizada. Imaginemos um banco descentralizado ou um sistema financeiro que não esteja dependente dos caprichos de um regulador central, ou que não restrinja o acesso aos indivíduos com base na sua nacionalidade ou nível de rendimento. Essa é uma das promessas mais excitantes da DeFi.

Transparência: Uma vez que todos na rede mantêm uma cópia da blockchain, todos os dados armazenados no seu interior estão abertos para que possam ser vistos e auditados por todos.

Não-Permissionada: Umablockchain pública, em oposição a uma permissionada/privada, está aberta a todos. Ao utilizar esta propriedade, DeFis será capaz de criar um sistema aberto onde pessoas de todo o mundo – que não têm acesso a serviços financeiros sofisticados – podem participar sem passar por uma extensa burocracia.

Confiança: Num sistema descentralizado, os nós individuais têm um incentivo económico para trabalhar no interesse do sistema. Isto contrasta fortemente com o sistema financeiro tradicional, onde é necessário (des)confiar que um órgão centralizado desempenhe honestamente o seu trabalho.

Resistência à censura: As blockchains aproveitam funções criptográficas sofisticadas de hash para serem completamente imutáveis. Por outras palavras, uma vez introduzidos os dados na blockchain, ninguém pode alterá-los.

Programável: As blockchains públicas como Ethereum e EOS são sistemas de código aberto e recebem programadores de todo o mundo para criar as suas próprias aplicações únicas sobre elas. Esta abertura à inovação levou à criação de algumas fantásticas aplicações DeFi.

O que é que a DeFi proporciona que as criptomoedas já não o façam?

Podemos perguntar-nos: uma vez que as moedas criptográficas como a Bitcoin já são descentralizadas e sem fronteiras por natureza, porque precisamos da DeFi?

– Comparar moedas criptográficas puras com DeFi é como comparar a moedas Euro a empréstimos em Euro. DeFi é um serviço financeiro que pode ter múltiplos casos de uso.

– As moedas criptográficas da velha guarda descentralizaram o acto de emitir e armazenar dinheiro. No entanto, não descentralizaram o sistema financeiro central em si mesmo.

– As moedas criptográficas continuam a depender de exchanges centralizadas para a sua utilização. A DeFi permite o surgimento de exchanges descentralizadas para garantir que não haja pontos de falha centralizados dentro do ecossistema.

– Organizações centralizadas gerem a maioria das criptomoedas.

O ecossistema DeFi actual:

A grande maioria das aplicações DeFi são construídas sobre a blockchain Ethereum, uma vez que é a plataforma de contratos inteligentes mais conhecida no mundo, com uma enorme comunidade de desenvolvedores. Pode-se pensar no Ethereum como um supercomputador global que aluga os seus recursos computacionais a programadores de todo o mundo que queiram construir as suas aplicações em cima dele.

Segundo a DeFi Pulse, a 11/05/2020 $900,8 milhões estavam fechados nos contratos inteligentes DeFi. A 12/05/2021 esse valor era de $89,72 biliões. Um crescimento de 10.000% num ano.

A DeFi.review dá-nos uma visão completa do panorama financeiro descentralizado em todas as plataformas.

Casos de Uso DeFi:

Os casos de utilização da DeFi podem assumir o DeFi Lending, DeFi derivatives e as Exchanges Descentralizadas.

No que respeita ao DeFi Lending (empréstimo), à semelhança de um banco tradicional, um utilizador deposita o seu dinheiro na plataforma e ganha juros quando outra pessoa o toma emprestado. A diferença principal reside na forma como a plataforma lida com o dinheiro no entretanto.

Na estrutura de crédito tradicional, os empréstimos são emitidos por instituições financeiras, tais como bancos ou serviços de empréstimo de terceiros. Estas instituições realizam uma verificação minuciosa dos antecedentes do mutuário para avaliar se este será capaz de pagar o empréstimo ou não. Esta verificação inclui, mas não está limitada a Salário anual, score de crédito, defaults passados. Como tal, muitas pessoas são mesmo excluídas do processo. Mesmo que entrem, ainda têm de pagar taxas de juro exorbitantes, tornando todo o sistema altamente ineficiente.

O empréstimo DeFi visa democratizar todo este processo e ligar os mutuários a um vasto conjunto de mutuantes. Em vez de ter institutos actuando como intermediários, os contratos inteligentes ligam directamente o mutuário e o mutuante entre si. O contrato inteligente é assim responsável por ditar os termos do contrato de empréstimo com base em condições pré-determinadas, e distribuir os juros em conformidade.

Tanto o mutuário como o mutuante podem beneficiar largamente da natureza aberta dos empréstimos DeFi.

No que toca aos mutuários: Inxistência de verificações de crédito o que tornam os empréstimos disponíveis a uma grande variedade de investidores. Ganham acesso a diferentes serviços de utilidade pública. Por exemplo, um mutuário pode emprestar temporariamente alguns tokens EOS e colocá-los no ecossistema EOS para participar na governação da rede.

Podem imediatamente fazer um short do activo emprestando-o em diferentes exchanges para participar no trading de margens.

No lado dos mutuantes, representa um sólido plano a longo prazo, oportunidade de ganhar rendimentos passivos através de juros, devido à transparência e falta de mediadores, o mutuante credor obtém maiores rendimentos e tem uma compreensão mais clara dos riscos envolvidos.

Alguns dos projectos de maior relevância compreendem o MakerDao,Compound, WBTC e o JUST. Pode conhecer cada um deles, e outros, em defi.review.

Os Derivados Descentralizados são bastante semelhantes aos derivados tradicionais (contrato que deriva o seu valor do desempenho do mercado de uma entidade subjacente, como um activo, índice, ou taxa de juro), excepto por um factor crucial – em vez de um corretor centralizado, utilizam um contrato inteligente para o fazer. Há várias vantagens nesta abordagem: Elimina a necessidade de um terceiro; Liquidação automatizada, on-chain; Os utilizadores podem criar instrumentos em praticamente qualquer activo subjacente.

Então, porquê utilizar derivados em primeiro lugar? Há duas razões principais: Protecções contra futuras flutuações de preços desde que assinou um contrato de compra de um activo por um preço fixo; Ganha ao prever correctamente como o preço da entidade vai mudar no futuro.

Existem 4 tipos de derivados:

Swaps: Permite que as contrapartes troquem fluxos de dinheiro entre si. O contrato de derivados de swaps define as datas dos pagamentos e o seu cálculo.

Opções: O comprador pode comprar ou vender o activo subjacente regido pelo contrato, se o desejar.

Futuros: O comprador deve comprar o activo subjacente ao preço pré-determinado numa data fixa no futuro.

Forwards: Esta é uma versão mais personalizável do contrato de futuros.

Os activos sintéticos, tal como os derivados, formam uma parte enorme e vital da paisagem financeira global. De acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais (BIS), durante a primeira metade de 2019, cerca de 640 triliões de dólares em derivados financeiros estão actualmente por liquidar. Isto torna facilmente o mercado de derivados o maior do mundo. Com a DeFi, será possível trazer estes contratos de derivados para o espaço descentralizado. Vejamos apenas alguns dos casos de utilização de derivados no mundo criptográfico:

– Os derivados de futuros podem permitir aos investidores mitigar o risco de flutuações de preços.

– Permitem aos utilizadores dos países em desenvolvimento investir em acções em países do primeiro mundo.

– Apostar na performance futura de uma moeda.

O terceiro caso de uso diz respeito às exchanges descentralizadas.

As exchanges (tradicionais) servem uma das funções mais críticas no ecossistema criptográfico, servindo como ponte entre os mundos fiat e criptográfico. No entanto, dada a sua natureza centralizada, é difícil ignorar os seus muitos problemas e a forma como tem assolado o espaço criptográfico ao longo dos últimos anos, nomeadamente sendo um alvo óbvio para ataques por parte de hackers. Tais ataques repetidos têm prejudicado a percepção pública das criptomoedas. Por outro lado, as operações das exchanges podem ser afectadas pelas políticas do país em que está registada.

De forma inversa, as exchanges descentralizadas ou “DEX” permitem trocas sem necessidade de confiança e sem dependerem de intermediários, correndo em cima de um livro de contabilidade partilhado. Uma DEX liga directamente duas partes uma à outra e permite-lhes partilhar activos sem terem de passar por um intermediário. Vejamos como funciona o processo:

Suponhamos que quer converter o seu BTC para ETH.

Envie um pedido à DEX para converter o seu BTC para ETH.

O contrato Inteligente da DEX verificará primeiro se lhes enviou ou não o montante requerido de BTC.

Agora a DEX analisará os seus outros pedidos para lhe corresponder com uma ordem apropriada.

Uma vez concluída a transacção, receberá a quantia apropriada de ETH na sua wallet.

As vantagens das DEX serão então que a ausência de intermediários garante que não há um único ponto de falha, e não depende de uma gestão centralizada.

Exemplos de DEX podem ser a Bancor, Uniswap e a Kyber Network. Pode conhecer cada uma delas, e outras, em defi.review.